DANCER IN THE DARK (projecção de filme) 28 outubro 2005

Não é difícil, ao primeiro embate, descortinar uma relação de amor/ódio (ou só de amor, ou só de ódio) na interpretação emocional do musical “Dancer In The Dark”, de Lars Von Trier. Tanto se pode invocar um intenso espaço-mulher tão comum nos filmes do controverso realizador (que servem ao espectador uma visão não-crua do hábito feminino), como se pode atiçar a condição humana para um manifesto anti-Selma (essa estranha personagem que catapultou, com certezas artísticas, a genial Björk para o mundo do cinema). O próprio título descreve essa ambiguidade de sentimentos na descrição perfeita de um ser que mora num “sonho sonhado” e que segura no útero toda a razão existencial, o seu filho Gene. Björk representa essa dançarina ou bailarina das trevas. Quase cega, sobrevive com dificuldades e ultrapassa obstáculos através de um imaginário decanção (é bom lembrar que Björk dá luz criadora à banda-sonora) e através de coreografias típicas dos musicais (Selma é uma apaixonada pelo “Música no Coração”). À medida que o sonho se desvanece, a realidade absorve o todo cinematográfico e concentra-o numa cena impossível, daquelas que apetece entrar pelo ecrã dentro e mudar o percurso da história (e também, porque não, da História). Como escreveu João Lisboa: “uma obra-prima que inaugura praticamente o género do musical-melodramático-neo-realista”.

É incontornável a apresentação deste filme no Subscuta. Toda a musicalidade nos momentos de recriação holywoodesca na visão estética de um dos realizadores mais estranhos deste planeta, todo o vanguardismo da banda-sonora protagonizado por um dos nomes mais endeusados da música pop, a própria figura de Björk que se despe de artifícios de imagem para a singela representação de Selma, todos esses factores justificam o preenchimento do lugar cinematográfico dos “ciclos de observação” do Subscuta.

Realização e argumento: Lars Von Trier
Actores: Björk, Catherine Deneuve, David Morse, Peter Stormare, Joel Grey, Vincent Paterson, Cara Seymour

Produção: Vibeke Windeløv, Lars Jönsson
Imagem: Robby Müller

Som: Per Streit

Montagem: Molly Malene Stensgaard, François Gedigier
Banda Sonora: Björk (“Selma Songs”)
Origem: Dinamarca, 2000
136’
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