Existe uma linha quase invisível a separar a genialidade da loucura. Uma espécie de fronteira de aço mole facilmente trespassável pelo artista. Há quem diga até que essa linha não existe e que tudo não passa de uma fantasia para absolver estados de espírito tão próximos (e ao mesmo tempo tão inimigos um do outro): “o louco é mesmo louco quando é génio; e o génio é mesmo génio quando é louco”. Seja como for, é ponto assente que a genialidade e a loucura andam de mãos dadas e que a emotividade é algo de cúmplice (uma espécie de cordão umbilical) na relação entre ambas. Daí a ultra-sensibilidade do artista-génio a despedaçar-se frequentemente num descontrolo de emoções ou num desequilíbrio inevitável de intelecto. Um autêntico termómetro de extremos (por vezes, contradições e paradoxos) e paixões impossíveis.
Este filme de Scott Hicks fala-nos precisamente disso. Logo nas primeiras cenas faz o retrato nu do génio David Helfgott (maravilhosamente interpretado pelo australiano Geoffrey Rush) a navegar em combustível psico-emocional numa chuva de sonho(s), aquela chuva rara que carrega com ela energia libertária. Mais do que uma fotografia de transição ou metamorfose, é uma imagem de vida.
Para trás do génio fica um passado amargurado e isolado sob o domínio austero de um pai tenebroso (“porque neste mundo apenas os bons sobrevivem… os fracos são esmagados como insectos”) e um percurso errante em estudos prodigiosos no Royal College of Music (em Londres) e internamentos
Pela perseguição da perfeição na execução da complicadíssima “Rach
Realização e argumento: Scott Hicks
Actores: Geoffrey Rush; Justin Braine, Sonia Todd, Chris Haywood, Noah Taylor
Produção: Jane Scott
Direcção artística: Tony Cronin
Origem: Austrália., 1996
105 min. | cor
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